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Tony Reis e Mariano Mattos Martins em cena com o Sr. Smith na peça Acordes, dirigida por Zé Celso.

Tony Reis e Mariano Mattos Martins no Teat(r)o Oficina, em cena com o Sr. Smith na peça Acordes, dirigida por Zé Celso.

Intimados para nova audiência no caso movido pela Justiça Pública que acusa artistas da Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona de “Crime contra o sentimento religioso”, o diretor José Celso Martinez Corrêa, e os atores Mariano Mattos Martins e Antônio Carlos da Conceição Reis (Tony Reis), todos da Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, deverão comparecer ao Fórum Criminal da Barra Funda na próxima segunda-feira, dia 08 de junho de 2015, às 16h.

O caso é relacionado à cena vivida pelos três artistas na PUC – Pontifícia Universidade Católica em 2012, baseada em texto de Bertolt Brecht, atendendo a convite de dirigentes, professores e alunos da PUC/SP – que, em greve, manifestavam-se contrários à decisão arbitrária dos mantenedores da Universidade de empossar o reitor que se classificou em 3º lugar na disputa, ao invés de acatar a eleição democrática.

Essa é a segunda vez que os artistas comparecerão ao Fórum Criminal da Barra Funda. Em 05 de novembro de 2014 eles foram intimados para uma audiência preliminar do processo 0056740-71.2013.8.26.0050, no caso em questão. Assistidos por seus Advogados, Dr. Fernando Castelo Branco e Dra. Fernanda de Almeida Carneiro, os três compareceram ao Fórum e ouviram as acusações do promotor. Entre elas, a de que estavam (na cena vivida na PUC em 2012) se escondendo através do Teatro para dizer impropérios e incitar a violência.

Depois dessa Violenta Manifestação do Promotor, contra o Teatro, considerando-o como uma Arte que não passa de um Esconderijo pra Cometer Violência e dizer impropérios, Zé Celso não se conteve e acusou o Procurador de Vilipêndio e Crime contra a Arte do Teatro em si. Diante desta ofensa explícita do Promotor ao TEATRO, os atuadores do Teat(r)o Oficina rejeitaram a proposta de transação penal do Mistério Público, pagando uma multa – o que significaria o encerramento do caso, mas que significaria também o reconhecimento da Culpa do Teatro ser realmente um Biombo para Ações Violentas e Impropérios.  Como não aceitaram a proposta de transação penal feita pelo Representante do Ministério Público, Dr. Matheus Jacob Fialdini, voltam agora para mais uma audiência, que pode implicar em pena de até um ano de detenção.

Para entender o caso:

Leia aqui texto assinado por Zé Celso sobre o início da acusação.

No início de novembro de 2012, a Pontifícia Universidade Católica nomeou a professora Anna Maria Marques Cintra como nova reitora da instituição, a despeito do fato de ter sido a candidata menos votada pela comunidade. Insatisfeitos, alunos, funcionários e professores iniciaram uma greve, que se estenderia por vários meses. Nesse período, foram realizadas diversas manifestações contra a nomeação, considerada arbitrária por diversos segmentos da sociedade.

Paralelamente, estava sendo encenada, no Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, sob a direção de Zé Celso, o musical “Acordes”. Baseada em texto adaptado de Bertolt Brecht, a peça refletia sobre o autoritarismo e o papel da multidão dentro do contexto das mudanças. Diante da similaridade dos temas, os grevistas convidaram a companhia para encenar um trecho da peça nas dependências da universidade. Foi solicitado, ainda, a adaptação daquele trecho para melhor refletir o momento vivido na PUC. Zé Celso, ex-aluno daquela universidade, aceitou com a Companhia o convite e modificou a figura do autoritarismo, representada, na peça original pelo boneco Sr. Smith, pela figura de um religioso.

No dia 27.11.12, membros da própria reitoria autorizaram a entrada do diretor e dos atores, que foram  conduzidos à Praça da Cruz, local onde os grevistas estavam reunidos e realizavam a “Assembleia Permanente dos Estudantes”. O trecho da peça foi encenado naquele local e o vídeo da apresentação disponibilizado no canal do Youtube do Teat(r)o Oficina. Assim como na peça original, o boneco é mutilado e, ao final, decapitado – como alegoria à necessidade de se rebelar contra o autoritarismo.

Alguns meses depois, o Padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, sentindo-se ofendido pelo teor da apresentação, encaminhou abaixo-assinado para o Procurador Geral de Justiça de São Paulo, requerendo instauração de inquérito policial para apuração de eventuais crimes que pudessem ter sido cometidos, como aqueles previstos no artigo 208 do Código Penal – escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa ou vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso – e ainda, aquele previsto de artigo 286 do mesmo Código Penal – incitação ao crime.

O inquérito policial foi instaurado, e os investigados – JOSÉ CELSO, MARIANO e ANTONIO CARLOS – esclareceram que jamais tiveram a intenção de escarnecer da fé católica ou zombar de objetos religiosos, mas apenas apoiavam mudanças políticas na PUC. Afinal, a intenção dos atuadores do Teat(r)o Oficina jamais foi a de ofender o sentimento religioso, mas apenas, por meio da liberdade de expressão artística – atendendo a convite e após ser franqueada sua entrada na PUC – participar do protesto pacífico que estava sendo organizado por dirigentes, professores e alunos da instituição.

Durante a audiência preliminar realizada no Fórum Criminal da Barra Funda no dia 05.11.14, os atuadores do Teat(r)o Oficina não aceitaram a proposta de transação penal feita pelo Representante do Ministério Público, Dr. Matheus Jacob Fialdini. O Promotor, então, ofereceu denúncia contra JOSÉ CELSO, MARIANO e ANTONIO CARLOS, afirmando que “no dia 27 de novembro de 2012, nas dependências da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, mais especificamente no espaço conhecido como Pátio ou Praça da Cruz, durante uma suposta encenação teatral, JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA, qualificado as fls. 45, MARIANO MATTOS MARTINS, qualificado as fls. 46, e, ANTONIO CARLOS DA CONCEIÇÃO REIS, qualificado as fls. 55, agindo em concurso e com unidade de desígnios, vilipendiaram publicamente objeto de culto religioso (…) além de ridicularizarem a imagem do Papa Bento XVI”. O (suposto) crime pelo qual foram denunciados, previsto no artigo 208 do Código Penal, tem pena de até um ano de detenção.

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Pois é. Acabo de receber esta intimação policial como “Ilmo. Sr. Diretor da Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, para fazer comparecer no 23º DISTRITO POLICIAL DE PERDIZES, dia 11 de junho, um dos nossos tecno-artistas associados para elucidar os fatos, e mais: reconhecer os atores de teatro em fotos ou vídeos postadas na web sob o título “Decapitação do Papa na PUC”, na “Ocupação da PUC pela Democracia”.

Achei o documento francamente delicado, educado, mais ainda, até afetusoso. Mas… o fato é que estamos sendo precessados mais uma vez pelos que devíamos processar pelo desrespeito ao Teatro e ao Estado Laico Brasileiro: os “Fundamentalistas Católicos Apostólicos ROMANOS”, que consideram a atuação teatral farsesca mais desrespeitosa do que o próprio ato destes Fundamentalistas de violar o espaço até então livremente sagrado da Universidade Católica.

Os alunos e muitos professores ocuparam a Universidade em virtude da nomeação para a Reitoria de uma candidata que pegou 3º lugar na eleição, mas foi a escolhida antidemocraticamente pelos representantes do Vaticano no Brasil por estar de acordo em transformar a PUC num “Recinto de Pregação Fundamentalista ROMANA”.

Estamos pasmos de ver todo dia e toda noite as epidemias mundiais assassinas na violência praticada pelos Monoteísmos Fundamentalistas de todos que se consideram donos de “Uma Verdade Absoluta” e “Um só Caminho”.

Ratzinger, antes de ser Bento XVI, já tinha castrado o movimento da Teologia da Libertação, de importância imensa para a vida cultural, religiosa e social do Brasil. No ano passado, quando sua fé como Papa já estava se perdendo, o representante de Deus na Terra quis tornar a PUC o que era no seu início.

Eu fiz dois anos de Filosofia na PUC nesta fase inicial, antes dos anos 60, ao mesmo tempo que fazia Direito na São Francisco. Desisti porque, entre outros, nosso professor Alexandre Correia, por exemplo, explicava com argumentos na matéria que lecionava, Lógica, a transubstanciação da Eucaristia em Corpo de Cristo… Vocês acreditam?
O Livro de Filosofia adotado no curso era um Catecismo trans-medíocre do Padre Leonel Franco.
Mas depois a PUC evoluiu de acordo com a evolução da Igreja nos anos 60,70 e 80 e tornou-se mesmo um reduto das mais decisivas lutas para derrubar a Ditadura Militar no Brasil.
O velho fundamentalismo do ensino havia sido superado e a Universidade Católica de Perdizes tornou-se Exemplar no Brasil e no Mundo pela sua prática da Liberdade Criadora nos Ensinos da Ciência, das Tecnologias e das Artes.

No ano passado estudantes da PUC foram nos procurar quando estávamos fazendo a peça “Acordes”, de Bertolt Brecht, chamando-nos outra vez à luta pela Liberdade do Ensino Laico no Estado Brasileiro Laico, na PUC agora ameaçada pela regressão à uma Universidade Fundamentalista Católica Apostólica ROMANA.
Os estudantes tinham ocupado a PUC e não permitiam a entrada da reitora imposta pelos representantes do Papa em São Paulo.
Na peça “Acordes” havia um Bonecão que representava o Capitalismo e que era despedaçado por dois Palhaços numa Cena de Circo de Horrores, no estilo tradicional teatral de “Gran Guignol”.
Então adaptamos o texto para a situação que a PUC estava sofrendo e apresentamos esta cena clássica do “Circo-Teatro” de Todos os Tempos: a Desmontagem, a DesParamentação, a retirada de uma Máscara Papal, tal como o próprio Ratzinger que acabou, ele mesmo, safando-se, saindo dela.

Será que a Bruxaria Teatral tem este poder? Libertou Ratzinger da própria Estrutura de sua Fantasia Papal?

O Teatro tem este poder: o de mostrar o ser humano mortal Paramentado com as vestes que lhe conferem Autoridade, muitas vezes destruindo a própria humanidade dos que se Paramentam, que passam a agir como Aparelhos, pois a Mascara se colou à pele

Jean Genet, em sua Obra Prima “O Balcão”, mostra um Bordel onde os clientes vestem as máscaras sociais de Papa, de Juiz, de Rainha, de General, de Polícia, etc… para transar seu “p(h)oder” com as putas que fingem acreditar em suas representações.
Na peça há uma Revolução e estas Máscaras das Autoridades são depostas, mas os partidários anti–revolucionários que restam vão ao Bordel e pedem que os clientes que frequentavam o Puteiro apareçam no Balcão do Palácio do Governador com suas Fantasias para conter a humanidade revoltosa com elas: suas Máscaras de Poder.

Bertolt Brecht tem em “Galileu Galilei” uma das mais belas cenas de teatro: mostra um Cardeal a favor da liberdade da Ciência, amigo de Galileu que vai se tornar Papa, mas à medida que vai se paramentando de Cardeal da Santa Inquisição, passa a argumentar a favor da prisão e tortura do grande físico Galileu porque ele afirma que a Terra gira.
No final da Paramentação, quando recebe a Mitra, o Cardeal Libertário concorda com a intimação do seu ídolo: o físico GG, para as salas de Tortura da Polícia da Inquisição.

Querer incriminar os artistas de Teat(r)o por esta cena é um atentado à liberdade de expressão do ator, isto é, ao “Anarquista Coroado”, como Artaud, um dos maiores sacerdotes Xamãs do Teatro afirma.

O Teatro é realmente o lugar onde tudo que é humano, transumano, subumano, animal, vegetal, mineral, pode ser vivido em forma de Máscaras de Dionísios, seu deus.
É o espaço da Liberdade Total. Nós das Artes, que lutamos contribuindo para abolir a Censura no Brasil durante a Ditadura Militar e ganhamos esta conquista não podemos recuar e aceitar a CENSURA à nossa atividade.

Esta criminalização da etherna atividade teatral à Liberdade de “rir corrigindo os costumes” demonstra que quem nos processa quer criminosamente o retorno do “Imperialismo Romano Católico Apostólico”, intrometendo-se no Estado Democrático e Laico brasileiro em forma de Criminalização Inquisitorial.

O Brasil é um país de maior número de católicos no mundo. Eu mesmo sou batizado, fiz 1ª Comunhão, mas por ter uma educação religiosa fundamentalista tirei o meu Corpo deste campo minado de Perversões.
Os brasileiros católicos não são romanos, são católicos antropófagos – frequentam o espiritismo, a Macumba, o Candomblé, a Umbanda, o Budismo – trepam com camisinha, portanto não somente para fabricar filhos, mas pelo prazer desta prática sagrada que é o ato sexual em si – um ato de amor, de criação e procriação quando há consentimento das partes.
Se casam, como os gays de hoje. Se a mulher que é mulher sabe o que quer e quiser abortar, aborta e depois confessa e comunga.
Sou vizinho de um lugar onde de 15 em 15 dias se encontram casais católicos carismáticos que passam os sábados e domingos dançando ao som do Tambor com toques até de Mãe Menininha.

Há, como diz Oswald de Andrade, um sentimento religioso “órfico” em todos nós, diante do Mistério da Vida no Cosmos.

Nossos ancestrais – minha avó paterna era índia – eram antropófagos, comiam carne humana tanto do inimigo mais forte para lhe adquirir as qualidades quanto dos entes queridos, filhos, irmãos, pais, avós, mulheres e maridos.
Era uma Cerimônia não para matar a fome, mas religiosa como a Eucaristia Católica que é uma sublimação da Antropofagia.
Talvez por isso no Brasil o catolicismo popular da maioria não tem a rigidez de outras religiões.

O Fundamentalismo é imposto pela religião do Hemisfério Norte, que antropofagiou o Império Romano e seus cristãos entregues aos leões, e tornou-se a Religião Católica Apostólica do Império Romano com ambições colonialistas e imperiais no mundo todo.

Esse tempo passou.

Vivemos de acordo com o que desejamos para nós mesmos e para todos, de mais gostoso.

A submissão a podres poderes é um assunto que está querendo retornar pelos que se sentem inseguros diante das revoluções que vem trazendo outros ares aos nossos tempos, desde 1967.

Esta intimação, aparentemente delicada, acolhe os interesses dos inquisidores fundamentalistas que determinam que eu, como diretor do OficinaUzynaUzona, cometa o crime anti-liberdade teatral e pró-censura de intimar artistas ou técnicos da nossa Cia. a dedurar através de fotos, como criminosos, atores que atuaram num evento pelo retorno da democracia na PUC.

Este instrumento jurídico, que a Inquisição da PUC conseguiu passar para  uma Delegacia de Polícia, é uma intimação contra a Constituição  do  Estado Democrático Laico no Brasil, a favor da reinstauração da Censura, contra a qual tanto lutamos nos tempos da ditadura militar.

É um atentado a Arte considerada como Crime.

Não desejo ser cúmplice deste Crime por isso vou por a  BOCA NO TROMBONE DO MUNDO.

José Celso Martinez Corrêa

orgulhosamente

Presidente da Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona

Paz Humor Amor e Muito Mais