Audiência Pública no Oficina com o CONDEPHAAT – Marco Zero da re-existência Cultural na Vida Urbana

Há um desentendimento absoluto entre a Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona – que cuida do Teat(r)o Oficina há mais de 50 anos e nele realiza suas produções artísticas – e o atual Governo do Estado de São Paulo. Assim como todos que estiveram no poder pertencentes ao PSDB posterior a Franco Montoro – governador que desapropriou o Teatro Oficina em 1984 para que não fosse engolido pelo Baú da Felicidade do Grupo Silvio Santos – o atual governo não tem a menor ideia do valor histórico, artístico, arqueológico e turístico do Oficina.

O que prova esta ignorância advinda nos sucessivos governos do PSDB pós-Montoro é esta Guerra deflagrada pelo atual Governo do Estado contra o Teat(r)o Oficina com o ATO praticado pela atual Presidente do CONDEPHAAT, Ana Lucia Lanna: em vez de defender o Teatro como seu Patrimônio Cultural – objetivo do Conselho – faz como Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal e inverte seu papel ao aprovar a construção do empreendimento da Sisan, braço da especulação imobiliária do Grupo SS, que pretende simplesmente assassinar a Obra de Arte de Lina Bardi e a vida em plena produtividade dos 60 atuadores multimídia do Teat(r)o Oficina.
O projeto das torres encaixota a Obra de Arte do “Arquiteto” Lina Bardi e impede sua complementação e sua existência de mais de 50 anos de criação de um dos mais fortes Coletivos de Teatro do Mundo desde o Século XX até hoje, 2013.
Além do mais pretende entregar o entorno tombado do Teatro Oficina pelo próprio CONDEPHAAT em 1983, na gestão do geógrafo Azis Ab’Saber, do pianista João Carlos Martins, tendo como autor do Laudo Técnico de Tombamento o artista, homem de teatro e arquiteto Flávio Império.

Simulação das edificações autorizadas pelo CONDEPHAAT no entorno do Oficina (destacado em vermelho)

Simulação das edificações autorizadas pelo CONDEPHAAT no entorno do Oficina (destacado em vermelho)

O empreendimento da Sisan foi aprovado em uma reunião obscura, em maio deste ano, com votos de apenas 13 dos 24 conselheiros, e um texto reles e mal escrito, incomparável com os laudos de seus antecessores acima mencionados e mesmo com o documento da atual Presidente do IPHAN, Jurema Machado, apresentado em 24 de junho de 2010, no dia do tombamento federal do Oficina quando ela era ainda representante da UNESCO. É um dos melhores textos escritos sobre o Teat(r)o Oficina e conseguiu a aprovação unânime dos membros daquele conselho.

A aprovação do parecer de Jurema termina com as diretrizes consequentes:

Considerando o Parecer da Relatora e após discussão do Conselho, foi a seguinte a decisão final:

· Pela inscrição do Teatro Oficina no Livro de Tombo Histórico e no Livro de Tombo das Belas Artes.

· Pela re-avaliação posterior, pelo IPHAN, da delimitação do entorno, tendo em vista tratar-se de bem a ser inscrito também no Livro de Belas Artes e não exclusivamente no Livro Histórico, e

· Pela manifestação, ao Ministro da Cultura, de que o Ministério e o governo federal identifiquem mecanismos que viabilizem a destinação do terreno contíguo ao Teatro Oficina para um equipamento cultural de uso público, utilizando mecanismos tais como a aquisição, a desapropriação ou a conjugação destes com instrumentos urbanísticos a serem identificados em cooperação com o Município e com o Estado de São Paulo.

A decisão do Órgão de Defesa do Patrimonio Cultural do Governo do Estado de São Paulo de assassinar o Teat(r)o Oficina e seu
entorno demonstra por si o apogeu deste desentendimento entre este Estado e o Oficina. Nunca quisemos assinar um Contrato de Permissão de Uso do Teatro Oficina a Título Precário com o Governo do Estado de São Paulo porque a própria incompreensão já revelada neste documento do Departamento Jurídico da Secretaria de Cultura não compreendia que já existíamos muito antes do Tombamento e posterior desapropriação pelo Governo Montoro.
Estas medidas jurídicas tomadas pelo Governo do Estado com o retorno da democracia e nosso retorno do Exílio imposto por este mesmo Estado no Período Militar visavam garantir nossa permanência no local que criamos: o Oficina na Rua Jaceguay 520.

Exatamente por nos tratarem desta maneira nunca assinei este documento de “Permissão de Uso a Título Precário” e nos garantimos até hoje com o Tombamento e a Desapropriação como garantia jurídica de nossa permanência por mais de 50 anos.

Durante estes últimos anos o Estado recusou uma proposta por nós feita de um Trabalho Teatral em torno de nossas relações burocráticas e jurídicas em que fiossemos personagens, assim como o Corpo Humano que trabalha na sua Administração, com o objetivo de realizar um “Convênio Exemplar” (nome da peça de Vídeo, Teatro e Debates que faríamos). No Lugar desta peça então trocamos o projeto por 4 semanas de leituras encenadas da peça “Cacilda !!!”. Fora isso não tivemos mais nada do Proprietário Estatal da Rua Jaceguay 520. Tivemos que nós mesmos fazer obras necessárias no Teatro como trocar toda a madeira da pista que já estava corroída pelos 20 anos consecutivos de uso; salvar a vida da Cezalpina plantada por Lina que nasce no nosso jardim e atravessa o muro e os vidros do Janelão que Lina criou e avança com sua generosa sombra sobre o Terreno pertencente ao grupo Silvio Santos, além de inúmeras outras obras de manutenção e consertos.
O Estado de São Paulo nos oferece somente o porteiro do Teatro, sendo que pagamos Luz, Água, Telefone, Internet, enfim todas as imensas despesas de manutenção de um Espaço Obra de Arte como o Oficina.
Depois de termos pedido há anos que regulem a situação de segurança do Teatro com o Corpo de Bombeiros – responsabilidade esta do proprietário – pois não temos saída de incêndio, a Secretaria no oferece esta monstruosidade de trancar toda esta Obra de Arte e nossa Atuação de Artistas com esta Torres e as outras por todo o Terreno, com uma saída de emergência com 1 metro e 80 cm., que ao mesmo tempo destrói o Janelão MASP criado por Lina Bardi e corta a Cezalpina plantada por ela. Nos fecha de novo sem Sol, sem ar, assim como todo o envoltório do Teatro atingindo a “Casa de Dona Yayá”, restaurada pela própria Presidente do CONDEPHAAT que aprovou estas Torres.

janela linabobardi cezalpina

A Cezalpina que atravessa o Janelão do Oficina. Foto Jennifer Glass

Mas sei que no ápice deste desentendimento e desta Guerra poderá dar-se o início de uma outra relação. Esta guerra vomita tudo que não é dito publicamente. Por decisão da Comissão de Cultura da Asssembléia Legislativa do Estado de São Paulo, o Deputado Paulo Rillo teve sua proposta de realização de uma “AUDIÊNCIA PÚBLICA” aprovada. Será no dia 5, ás 14:30h, no Teatro Oficina com a Presidente do CONDEPHAAT a propósito desta tentativa de destombamento e massacre do Teatro. A audiência teve o apoio dos Deputados do PSDB, do PC do B e de todos os Partidos enfim que compõem a Comissão de Cultura.
É um ato público em que é desejável a presença de todos os defensores deste Patrimônio: o Teatro Oficina. Os que aqui atuaram nestes 50 anos, os que aqui vieram ver e viver nossos trabalhos, o grande Público do Oficina Uzyna Uzona e todos que desejam também o Tombamento da Área Verde do Parque da Augusta e a entrada de nossa Metrópole nesta Era Ecológica Digital, portanto Pós Industrial.

Estas Torres enfartam ainda mais não somente todo BIXIGA como toda SamPã. Nesta audiência devemos tratar também do bem vindo plano de construção de moradias populares no Bairro do Bixiga pelo Governador Alckmin, mas precisamos estar certos de que não se repetirão casos como o do Teat(r)o Oficina: a derrubada dos lugares preciosos que dão a personalidade magnífica deste Bairro irmão da Lapa, hoje reconquistada no Rio de Janeiro como Espaço Cultural restaurado e frequentado por Multidões de toda Cidade.

Queremos o mesmo pro Bixiga. Estou certo que, como vivemos uma Época magnífica de transição de um Capitalismo que esgotou as reservas do Planeta e que precisa abandonar seu “ismo”, ficando com o Capital somente, para que nós todos possamos cuidar dos estragos feitos no Planeta Terra e aprender a viver de uma maneira mais culta – mais simples.

Na peça que fazemos agora, Cacilda!!!, Franco Zampari declara que a Cidade do seu tempo começava a descobrir a Indústria dos Séculos Futuros: a Cultura. E realmente ele trocou toda sua fortuna para criar a modernização do Teatro e do Cinema Brasileiro no TBC, aqui no Bixiga, e na Vera Cruz. No fim dos anos 40 e nos 50 a Burguesia Paulista deu uma Infraestrutura que é a que existe até hoje em SamPã: a Bienal, o Ibirapuera, o MAM, o Cultura Artística, o MASP.

Hoje temos o SESC. Sem Danilo Miranda essa cidade não produziria mais Teatro Arte. Mas temos que ir mais longe – a própria condição desesperadora da Metrópole Caótica e Enfartada em que vivemos precisa de mais – de uma Infraestrutura Cultural que é a da própria Vida da Cidade, de seu ar, de suas terras vazias de Torres, das Águas de seus Rios fedidos despoluídas no Fogo de uma Virada Cultural intensa de todos os 365 dias do Ano.

Talvez desse desentendimento entre o Oficina e a Cultura do Governo do Estado possa nascer uma nova compreensão do que é uma CULTURA VIVA – não sujeita às burocracias – tendo suas leis interpretadas a favor de nós todos humanos que aqui vivemos. Esta AUDIÊNCIA pode ser o início de um Marco Zero no movimento para a Cultura atravessar toda nossa vida URBANA, SUBJETIVA, MATERIAL E IMATERIAL. Talvez desse encontro comecem a germinar sementes que superem este desentendimento entre Cultura e o Peso Irracional dos Departamentos Jurídicos sem a presença do Poder Subjetivo na Interpretação das Leis.
Não há leis Pétreas. Se fosse assim não haveria necessidade de ninguém em postos como os de Preservação do Patrimônio Cultural e nas Secretarias e Ministérios da Cultura. A Intervenção do fator humano no Poder hoje é decisiva nesta nossa luta diária para não deixar que esta Cidade e este Planeta apodreçam acabando de vez com a Cultura Nova, pós industrial.

O momento exige a mudança de nós todos.

As ruas vão clamar por esta nova Independência neste 7 de setembro – Primavera de 2013.

José Celso Martinez Corrêa
Uma pessoa chamada Zé,

MERDA

5 comentários
  1. Zé me voltou o Brecht todo…. todinho e na minha raiva esqueci mais uma que vc me ensinou…. Dessa cidade só vai restar o vento que passa através dela…….. ruim ficar com raiva. Esqueci meu texto.

  2. Eu deixei livros comprados no Goethe Institute de Salvador com o William Ramalho Feitoso. Uma mala cheia de livros, em torno de 30 livros, sobre teatro, dos melhores autores. Se tiverem interesse proucurem o William Ramalho Feitosa, o facebook dele é https://www.facebook.com/wilian.feitosa.
    Espalhem para todo o Bexiga, para ler teatro, ele mora na República, ao lado da Praça Roosevelt.

    William Ramalho Feitosa foi uma maravilha comigo na minha estada em São Paulo em 2013, eu morava na Rua Dr Teodoro Baima, Edificio Paineiras 51, apartamento 52. Morei entre Julho e Setembro de 2013, William Ramalho Feitosa era o dono do imóvel, todos os dias eu ia até o Bairro do Bexiga contemplar José Celso Martinez Correia: O melhor diretor de teatro do Brasil.

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