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Arquivo mensal: janeiro 2013

Olá, Zé Celso. Tudo bem?

Sou Rayanne Azevedo, repórter de Cotidiano da Folha de S.Paulo. Estamos trabalhando em um caderno especial para o aniversário de São Paulo, em 25 de janeiro. Você topa responder a uma entrevista rápida? É sobre a sua relação com a cidade. Estamos enviando o mesmo questionário a outras pessoas (nascidas ou não em São Paulo, mas que vivem aqui). A ideia é montar um mosaico bacana com as respostas.

As perguntas são as seguintes:

1. Qual foi o primeiro lugar que você morou em São Paulo?

– BIXIGA

2. Qual é o barulho que você mais gosta na cidade?

– O do Teat(r)o Oficina e Terreno do entorno, onde o Inferno Acústico do Minhocão vira Mar. No 1º do ano passamos num Monte de destroços do quarteirão q estamos ocupando por Comodato como nosso atual amigo Silvio Santos – Monte que consagramos como nosso Totem. Fomos cercados por um bombardeio em roda, depois baixou um silêncio de “Oficina de Florestas”. Foi auspicioso.

3. Qual foi a maior loucura que já te aconteceu em São Paulo?

– Desejo q aconteça no dia 25 de janeiro de 2013 – aniversário da Cidade de SamPã e do Prefeito Fernando Haddad – coincidência q induz a acontecer uma loucura real: q o Prefeito receba o Presente do “Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona” à sua gestão: a COPA DA CULTURA DE 2014 no “TEATRO DE ESTÁDIO OSWALD  DE ANDRADE”, tornando público no seu dia, seu empenho urgente de  TROCA DE UM TERRENO DA PREFEITURA pelo TERRENO DO GRUPO SILVIO SANTOS NO ENTORNO  DO OFICINA TOMBADO PELO  IPHAN. COM ESSA TROCA O BIXIGA RENASCE COMO A LAPA NO RIO RENASCEU

4. O que faz de você um paulistano?

– Meu stress igual ao das quaresmeiras, pois crio nele como elas.

5. Que personalidade merece uma estátua em São Paulo?

– Se estátua valesse alguma coisa eu levantaría pra Eduardo Suplicy e Silvio Santos -os dois juntos.

6. Qual a principal vantagem de morar na cidade de São Paulo?

– Ter de Tudo, do Pior e  do Melhor – por isso chamo SP de SamPã  / Pã é =TUDO.

7. Vizinho em São Paulo é? (Conhece, nunca viu, mantém boas relações ou não…)

– Adoro todos do prédio em que moro e do prédio da frente e não somente de onde moro, mas nossos vizinhos do Teat(r)o Oficina – até uma q vive se queixando do barulho q fazemos e sempre nos ameaçando de chamar a Polícia.

8. Se você tivesse o poder de implodir um lugar em São Paulo, qual seria?

– Nenhum, tudo se transforma e pode ser habitado. O Minhocão por ex. pode virar um imenso Centro das Mais Diversas Transas nos seus baixos e em cima um Jardim, até com um pequeno corredor de trânsito. Paulo Mendes da Rocha fez um projeto Maravilhoso pro Minhocão em frente ao Oficina Desejo q consigamos  levantar.

9. O que é que o paulistano tem? (Charme, dinheiro, estresse?)

– É muito abstrato dizer “Paulistano” nessa Metrópole que tem quem vive a maior parte da vida dentro do Onibus ou do Metro, vivendo em bairros com toque de recolher, e outra que se transporta em  helicópteros – e concentra todo capital da cidade mais rica do Brasil, vivendo nos Carandirus de Luxo.

10. O que faz um paulistano feliz?

– Sei o que faz feliz este paulistano, eu mesmo: é estar batalhando pro BIXIGA se tornar de novo o Coração Popular e Cosmopolita de SamPã, como a Lapa  se tornou no Rio, daí minha felicidade é estar desde há muito tempo contruindo o “Anhangabaú da Feliz Cidade” com a “Universidade Antropófaga”/Teatro de Estádio/Oficina de Florestas reflorestando todo Bixiga/com Creche para o Bairro / e a Pista de Atuação do Oficina Uzyna Uzona, hoje “Rua Lina Bardi” atravessar os muros do nosso Entorno Tombado pelo IPHAN, ir ao encontro do TBC, pelos fundos e encontrar-se com o Jardim de Dona Yayá formando o inicio de uma Complexo Cultural chamado “Praça da Paixão”

Desejo não ser cortado tanto em nome de uma rapidez abstrata.

“Boa tarde!

Sou pauteiro do Jornal da Band e estou atrás do contato do Zé Celso. O ator Walmor Chagas faleceu na tarde desta sexta-feira e gostaríamos de repercutir a morte do ator amanhã (19) com o Zé Celso.

Vocês poderiam, por favor, me passar o contato do Zé?

Aguardo o seu retorno.

Obrigado,

Diego Costa.”


Ió! Diego, recebi a notícia do suicídio corajoso de Walmor aqui na “Praia dos Carneiros”, uma das muitas maravilhas de Pernambuco, nosso Repouso de Guerreiros, meu e do Ator Poeta da Arte Teatral: Roderick HimÉros.

Estamos preparando a Guerra pra ganhar 2013, estrategiando com nosso Poder Teat(r)al a peça: Cacilda!!! – Glória no TBC, 3ª das 4 peças que escrevi sobre a Arte Elétrica Quântica de Cacilda Becker, a partir de um prêmio que ganhei na gestão de Fernando Morais na Secretaria de Cultura da Cidade de SamPã em 1990. Este ato Trágico de Walmor atinge a peça em que estamos trabalhando, em cheio.

É sobre Cacilda, o TBC e… Walmor. Ele chega em Sampã e entra no TBC, dirigido por Ziembinski.

Conheci o poder deste gênio estóico pela primeira vem em “VOLPONE”, fazendo o MOSCA. Cacilda apaixonou-se de cara pelo sujeito transumano e pelo Ator, quando conheceu aquele menino, mais novo que ela, atuando em cima de um monte de Merda como uma Mosca Varejeira.

Em “Gata em Teto de Zinco Quente”, a personagem de Cacilda, Maggie, a Gata, não consegue trepar com ele, ele é gay, vive na cama do casal, enchendo a cara, não quer nada com ela. Walmor-Brik está atormentado pelo suicídio do seu Amante Skipper. E está ferido na perna esquerda, sem poder locomover-se direito. Na peça e na vida: Cacilda acaba ganhando por 12 anos Walmor Brick como marido, e seu maior parceiro Teatral.

Abandona o conforto do TBC e funda a Cia. com Walmor: o TCB (Teatro Cacilda Becker). Cara!, a peça agora podia se chamar Cacilda!!! – Walmor!!!

Cacilda teve um aneurisma no 2º ato de “Esperando Godot”. Walmor assistiu e viveu os 39 dias de coma da Atriz-Matriz e depois com permissão da família dela desligou os aparelhos que a mantinham com vida vegetativa e ele … suicidou-se pra não ser peso, nem pra ele, nem pra ninguém.

É uma Tragédia completa de Teat(r)o.

Uma TRAGYKOMÉDIORGYA.

Walmor e Cacilda: os maiores Ator e Atriz que o Brasil já fabricou!

Vai mudar muito a peça que escrevi em 1990.
Já encenei duas, da Tetralogia: na 1ª, Cacilda! (uma Exclamação) Walmor já entrou, vivido por Marcelo Drummond. Montei a segunda, também Cacilda!!(duas Exclamações), quando ela é uma Estrela a Vagar pelo Rio de Janeiro. Dou o ano de 2013 pra Cacilda!!! (três Exclamações) e este acontecimento com Walmor vira do avesso esta peça.

Em 2015, se estiver vivo, monto Cacilda!!!! (quatro Exclamações).

Cacilda Estragon e Wladimir Walmor, em Esperando Godot

Cacilda Estragon e Wladimir Walmor, em Esperando Godot

Agora é claro: pela atitude de Walmor, diante da vida toda, tudo que fez, Walmor e Cacilda equivalem-se, são ambos protagonistas. Marcelo Drummond vai viver este Protagonista este ano, da peça que será montada:

– no Teat(r)o Oficina

– em seu Entorno tombado pelo IPHAN em 2010, que já estamos ocupando: Um quarteirão Inteiro do Bixiga e

– no TBC em obras.

Soubemos da notícia por Felipe, o dono da Pousada que nos chamou pra ver em seu quarto uma entrevista dele com 80 anos, que a Globo News pôs imediatamente no ar. Nela Walmor, o entrevistado, contagiou a entrevistadora e vi uma das mais belas entrevistas teatrais de minha vida. Tente ver, é deslumbrante. Walmor nela afirma emocionado o Valor Incomensurável do Teatro, atuando, contando do aneurisma de Cacilda no 2º Ato de “Esperando Godot”, como nunca havia contado.

ENFIM, TENHO MUITO Q DIZER SOBRE WALMOR, MITO DE “CACILDA!!! – GLÓRIA NO TBC”, ONDE A ATRIZ DAS ATRIZES ENCONTRA UM JOGADOR COM A POTÊNCIA DE SEU JOGO.

Os dois nesta peça abrem espaço para a complementação de Lina Bardi de seu Projeto Urbano pro Oficina, o renascimento do BIXIGA.

A Bandeirantes foi onde Cacilda mais trabalhou no tempo do Video Cassete. Tem de entrar nesta Aventura. Eu SOU APAIXONADO POR TODA MINHA VIDA PELA DUPLA – ESTE SUICÍDIO BATEU EM MIM FORTE.

MERDA

iÓ! Amado Juca,

“Uma única luta – a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.” – Oswald de Andrade, no Manifesto Pau Brasil.

Estou te enviando este link, sobre a 1ª réplica do Globe Theatre de Shakespeare fora de Londres, a ser construída até a Copa de 2014, em Minas Gerais: http://artebrasilproducao.com.br/gandarela#.UPBBLLakBXI

Você já deve estar sabendo, mas eu ainda não estava. Percebi então como é fácil importar Cultura já instituída.

Não tenho a pretensão de me comparar ao Bardo – mas sei que o Brasil vem em sua história produzindo uma Cultura de Exportação, há muitos anos.

Veio à tona, urbana, em 1922, com o Modernismo; em 1928 com o Manifesto Antropófago de O.A e nos anos 60 com a Tropicália: não somente na Música, mas nas Artes Plásticas, no Teat(r)o Oficina, com a montagem de “O Rei da Vela”, que plugou através de Oswald toda nossa geração, no Cinema Novo, sobretudo de Glauber e na Atitude Transversal na Cultura que fez emergir a Arte Popular Brasileira sepultando as classificações erudito X popular.

A Tropicália continua sendo um dos mais fortes movimentos culturais no mundo e revelou que, como previa Oswald, o Brasil não precisa babar ovo pra Cultura da Colonização, por mais brilhante que seja, pois já tem uma Cultura de Exportação.

Só não sabe disso – ou se sabe, finge ignorar – a pequena e a alta burguesia colonialista, pois é mais fácil ter o $ importando que gastando com a Cultura Original Brazyleira de Exportação.

O Oficina, desde O Rei da Vela vem criando um Teat(r)o como não existe igual no mundo. Quando fomos pro exterior, por exemplo em Berlim, com Os Sertões, em 2005, fomos recebidos escandalosamente bem pelo Público acostumado com um Teatro Careta que não consegue nem mais montar por ex. Shakespeare, como acontecia até os anos 60. E fomos escolhidos o Melhor Evento Cultural daquele ano na cidade: “Por duas semanas o Teatro Oficina de São Paulo transformou o Volksbühne em sambódromo e os espectadores em co-dançarinos. Uma festa de encher os sentidos, desmedida, altamente política, dionísiaca e carnavalesca. Há tempos não vivenciei teatro de maneira tão intensa, tão à flor da pele”, Gerd Hartmann, na Revista Zitty.

A Partir de Lina Bardi ter vindo trabalhar conosco em 1970 fomos progressivamente realizando uma Arquitetura e projetando um Urbanismo para o Espaço transversal da produção da Associação de Artistas Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona que vem criando desde então um espaço cênico tão original quanto o Globe Theatre: um Teat(r)o Pé na Estrada = teat(r)o rua, como dizia Lina.

A Pista do Oficina, como Lina sonhou, é hoje, depois do Tombamento pelo IPHAN feito em sua gestão no MINC, a Rua Lina Bardi, que atravessa os dois Arcos Romanos, quebrando o Beco sem Saída, depois de mais de 30 anos de luta com o Grupo Silvio Santos, e agora espraia-se num Delta de ruas de todo quarteirão do Bixiga.

Hoje estamos ocupando todo este Espaço.

Lá já realizamos as Dionizíacas de 2010, patrocinadas pelo MINC numa tenda para 2.000 lugares; A Macumba Antropófaga 2011, que semeou com o público, nos escombros do quarteirão derrubado pelo Grupo SS, sementes de girassóis que nasceram pouco depois. Agora está nascendo abóbora.

Bacantes nas Dionisíacas em Sampã, dezembro de 2010

Bacantes nas Dionisíacas em Sampã, dezembro de 2010

Girassol nascido nos escombros das construções derrubadas

Girassol nascido nos escombros das construções derrubadas

Abóboras para 2013

Abóboras para 2013

Encenamos a Macumba Antropófaga 2012 num Circo levantado por nós, cirandando antes pelo Bairro do Bixiga: TBC, Casa de Dona Yayá, Apê onde morou Oswald de Andrade e escreveu Sob as Ordens de Mamãe ou um Homem Sem Profissão, pela rua dos Craqueiros, retornando ao Quarteirão Tombado pelo IPHAN por uma Alameda Pomar, o início da Oficina de Florestas.

O mesmo aconteceu com Acordes, no segundo semestre de 2012, antropofagiado de Brecht.

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Neste ano de 2013, até 2014, já caminhamos pra a Copa de Cultura 2014. Imagino ser um Evento Nacional e Internacional, mas com a participação das Culturas de Artes Cênicas dos BRICS.

A Cultura destes países tem uma tradição de vínculo com as Artes Populares que é bem mais contagiante que o Teatro que se faz na Europa ou EEUU. Os BRICS estão muito mais próximos do Oficina Uzyna Uzona.

A Mesma coisa com as Culturas do Brasil popular de hoje, que não cabem no Palco Italiano. Participariam também desta Copa.

Se Minas importa temos de convencer os Investidores da Cidade mais rica do Brasil a criar este Espaço mais original que o Globe Theatre, nascido da Cultura Mestiça Brazyleira Cyber-Tecnizada como diriam Oswald e Glauber.

Estou de repouso de guerreiro na Praia de Carneiros (PE). Volto em Sampa dia 30, pronto pra guerra de novo – essa a mais difícil da nossa história neste ano de Crise y Austeridade, aqui pelo Brasil também.

Mas tenho a certeza que encontraremos a saída.

Amante

Projeto do Escritório de Arquitetura JBMC para o Anhangabaú da Feliz Cidade

Projeto do Escritório de Arquitetura JBMC para o Anhangabaú da Feliz Cidade